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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Engesa EE-T1 Osório



No início da década de 1980 a Brasil possuía duas empresas fortemente consolidadas na área de veículos militares: a Bernardini S.A. Indústria e Comércio e a Engesa Engenheiros Especializados S.A.

A Bernardini havia se especializado no repotenciamento e modernização de velhos carros de combate M-3A1 “Stuart” e M-41 Bulldog. Já a Engesa tornara-se uma conhecida fabricante de veículos militares sobre rodas. Ambas as empresas resolveram partir, independentemente, para o desenvolvimento de um carro de combate (“tanque”).

A Bernardini saiu na frente e optou por um veículo mais leve, na categoria “carro de combate médio”, com sistemas mais simples e dentro das especificações do Exército Brasileiro (EB). Já a Engesa tinha como principal alvo o mercado externo, principalmente aquele onde reinavam os MBT (Main Battle Tank).

As necessidades sauditas

A partir de 1972, a Arábia Saudita começou a receber sucessivos lotes de carros de combate AMX-30, fabricados na França. Em pouco tempo, o AMX-30 tornou-se o principal carro de combate do Exército Saudita.



O AMX-30 era um carro de combate de manutenção simples e custos baixos, quando comparado a outros veículos da mesma classe como, por exemplo, o Leopard 1 alemão.

Acontece que, ao longo da década de 1970, uma nova geração de MBT surgiu e muitos destes veículos novos começaram a entrar em atividade em países vizinhos ou próximos. Era o caso dos T-72 no Iraque e dos Merkava em Israel. Quando comparado a esses veículos, o AMX-30 possuía blindagem e poder de fogo inferiores. A Arábia Saudita temia perder a supremacia regional que havia adquirido (ver gráfico abaixo).

Dois AMX-30 franceses no deserto. O AMX-30 era o principal carro de combate da Arábia Saudita até o fim da década de 1980 (FOTO: US Army)
A Revolução Islâmica no Irã em 1979, e o início da Guerra Irã-Iraque em 1980, pressionaram a Arábia Saudita a incrementar seus gastos com defesa. Nesta época o reino saudita possuía perto de 450 carros de combate, quase todos do modelo AMX-30. Num primeiro momento a Arábia Saudita não pretendia substitui-los, mas sim complementá-los com um modelo de carro de combate mais moderno e equivalente ou superior aos existentes nos países próximos. No futuro, o novo carro de combate deveria também substituir o AMX-30.

Uma oportunidade para a Engesa

Executivos da Engesa, que já naquela época tinham bons relacionamentos com vários países árabes, viram na concorrência saudita uma oportunidade de ingressar no nicho dos carros de combate.

A ausência de experiência na área de veículos sobre lagartas e o comprometimento da equipe de projetos da Engesa com outros programas acabou levando a companhia a buscar uma parceria no exterior.



Contatos foram feitos com a Thyssen-Henschel, empresa alemã com larga experiência em blindados. A Thyssen-Henschel apresentou uma proposta com base em um carro denominado “Leopard 3” que era simplesmente uma derivação do TAM (Tanque Argentino Mediano).

Apesar do TAM argentino ser um blindado com excelentes qualidades, ele não era páreo para os MBT que participariam da concorrência na Arábia Saudita (FOTO: Wikipedia)
O TAM era um carro de combate adaptado, desenvolvido a partir do chassi do veículo de combate de infantaria Marder. O “Leopard 3” não teria a menor chance contra os principais carros de combate existentes no ocidente e que, por ventura, participassem da concorrência saudita. Portanto, a Engesa descartou qualquer associação com a Thyssen-Henschel.

Uma outra oportunidade, vinda da Alemanha, também surgiu na mesma época. A Porshe, tradicional projetista alemã de carros de combate, abriu negociações com a Engesa e aceitou desenvolver um veículo em conjunto, obedecendo aos parâmetros definidos pelos brasileiros. Porém, pouco tempo depois, o governo alemão desautorizou a Porshe a participar do projeto.

Entendimentos com a empresa sul-africana ARMSCOR também foram feitos. A Engesa estava especialmente interessada na produção da blindagem composta desenvolvida por aquela empresa. Mas, em função dos problemas políticos enfrentados pelo país africano devido à sua política de segregação racial, não houve uma aproximação maior.

Depois de algumas tentativas mal sucedidas na busca por um parceiro estrangeiro, a Engesa decidiu projetar por conta própria um carro de combate focado no mercado externo.

Desenvolvimento do Projeto



Para conquistar parte do mercado externo de carros de combate de primeira linha, a Engesa não poderia adotar rigorosamente os parâmetros estabelecidos pelo Exército Brasileiro. Um dos itens mais críticos dizia respeito ao limite do peso. Segundo o OBO (Objetivos Básicos Operacionais), o peso máximo não deveria superar 36 toneladas. Em relação às dimensões, as premissas do EB apontavam um limite de 3,20 metros de largura.

Maquete do Osório feita antes do primeiro protótipo ficar pronto. Grosso modo, as linhas básicas do projeto se mantiveram (FOTO: ENGESA)
Numa rápida comparação com os principais MBT do início da década de 1980 fica claro que esse limite estava muito aquém do desejado. Não era possível atender, ao mesmo tempo, os requisitos do Exército Brasileiro e competir com os principais carros de combate.

Ficou acordado com o EB que dois engenheiros militares do CTEx (Centro Tecnológico do Exército) acompanhariam o projeto do MBT brasileiro, uma vez que o carro da Engesa necessitava do aval do Exército para ser vendido.

O projeto do carro de combate da Engesa começou a tomar forma no segundo semestre de 1983. No início, três engenheiros foram incumbidos de desenvolver o projeto. Ele recebeu a designação EE-T1 e o nome “Osório”, uma justa homenagem ao Marechal Manoel Luis Osório, patrono da Cavalaria do Exército Brasileiro. Porém o nome “Caxias” (patrono do Exército Brasileiro) também foi cogitado, mas os clientes estrageiros da Engesa teriam dificuldade em pronunciá-lo.

Imagem capturada da tela de um computador mostrando o projeto do Osório em CAD 3D (FOTO: ENGESA)
Ao contrário dos veículos anteriormente projetados, o futuro carro de combate da Engesa nasceu com o auxílio computacional de softwares tipo CAD/CAM (Computer-Assisted Design/Computer-Assisted Manufacturing), uma verdadeira revolução naquela época. De certa forma o emprego de softwares na fase de desenvolvimento ajudou a empresa brasileira a projetar o carro em curto tempo, uma vez que a própria empresa havia fixado o prazo de um ano para a conclusão do protótipo.



O desenho geral do EE-T1 era bastante convencional, obedecendo ao padrão dos principais MBT de sua época, com o motor e a transmissão na parte posterior do carro, uma tripulação composta por quatro elementos. A tripulação era separada do conjunto motor/transmissão por uma parede “corta fogo” e estrutural, com isolamento térmico-acústico.

Fonte: Forte/Força terrestre

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